SENTIDOS


 
Não tenho ouvidos pra entender o vento

Não tenho olhos para ver um sentimento

Nem paladar para sentir o gosto de uma ilusão

Nem sentidos pra pressentir traições

Nem estrutura para viver só

Que bom seria ser ilha

Ser dono de si mesmo

Sem um coração que possa ser ferido

Um orgulho que possa ser humilhado

Ser pedra e não flor

Ter imunidade a dor

Não temer a perda dos que amei

Pois esta dor, tão angustiante mazela

Arranca pedaços, faz feridas, impossíveis cicatrizes

Não tenho sentidos para ser proteção

Se exposto ao desamor sou ruina e abandono

E frágil fui feito assim

Covarde dependente ansiando gargalhar

Mas sendo feito lagrima fria

Carne que deseja e queima

Exposto aos ventos e chuvas fartas

Rebelo-me

E não amando mais, nem demais

Sou liberdade...


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