É CERTO QUE TUDO SE VAI...
Restos solitários de nuvens vagueiam nos
escuros céus azuis do crepúsculo
As mãos frias, vítimas de ventos e
ansiedades, um olhar disperso e nublado
Você se recusa a chorar, a sentir, a provar
do néctar confuso que é existir
Quando tudo parte, quando rostos se vão e
nomes são esquecidos
Se completas os espaços agora vazios com
lembranças do que não aconteceu
As velhas coisas estão lá, no fundo de
lugares não mais alcançáveis pela memória
Não libertamos o que quer voar, retendo nas
mãos o que não quer ficar
Frágeis e dependentes, condicionados a amar,
se apegar e se perder no caminho
Feliz da ave que vê sua cria voar, assiste
com medo e orgulho o voo de quem não volta mais
A dor seca, única, rápida e silenciosa
criando-se imediatas cicatrizes
O sol se pôs mais uma vez, quantas vezes
foram? Ainda é belo? Um pôr do sol ainda fascina?
E na noite quando enfim os olhos querem se
fechar, cansados de ver luz, buscando escuridão
Momentos vividos retornam, de esquecidos
cantos surgem rostos e vozes, momentos
Fantasmas vivos vindo de sons suaves, cheiros
conhecidos, hábitos guardados
Os anos, páginas de um livro que lentamente
se fecha deixando ver um pouco do que se foi
Uma criança que retorna a um corpo que agora
aos poucos já não se move, arrasta-se
Onde todo canto, beirada, parede, são apoios
para se movimentar
Onde a face, um dia, orgulho e vaidade, é
vergonha em mostrar
Onde o espelho, companheiro de belezas,
torna-se vilão ao expor o tempo cruel
Quando envelhecer se torna de orgulho
vitorioso em derrota para um corpo que se esvai
quando se assiste lentamente morrendo
aquele jovem que um dia compartilhava sonhos
A falácia de perceber que tudo é uma vida de
luta e sacrifício
Absoluta certeza que tudo que se ama sempre será
perdido para sempre
Que a saudade é uma constante e a ausência é a única e eterna presença...
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